Ladrões do Sono

Os hormônios atrasam a hora de dormir

Uma batalha inaugura o dia na casa da maioria dos adolescentes. De um lado estão os pais, com o firme objetivo de arrancar o filho da cama. Do outro lado, na cama propriamente dita, está o adolescente, sem outro objetivo que não seja continuar dormindo. Todo mundo já viu esse filme, mas dessa vez a cavalaria está chegando para socorrer... os filhos! Estudos mostram que o vilão da história são as alterações hormonais, que mexem com o relógio biológico dos adolescentes e retardam sua hora de dormir. Por isso eles esticam o sono matinal. O neurocientista Fernando Louzada, professor da Universidade Federal do Paraná, explica que as pessoas têm necessidades de sono diferentes, determinadas geneticamente (veja boxe), mas os efeitos hormonais atingem toda a faixa juvenil. Claro que nem tudo é biologia, e os hábitos sociais também colaboram. O adolescente tem muitos estímulos para a insônia, como a TV, o computador, as baladas. Porém, mesmo em áreas rurais, menos ativas à noite, o atraso do sono juvenil foi comprovado.

Privação e estresse

Dormindo mais tarde e acordando cedo, o adolescente sofre privação de sono, e os sinais costumam ser claros: sonolência, dificuldade de concentração, irritabilidade. Sem falar no estresse para sair da cama. A arquiteta Mônica Multari, mãe de Pedro, de 16 anos, que o diga. "O Pedro dorme supertarde e tem de acordar às 6 horas. O despertador não resolve e eu começo a chamá-lo às 6h10. As chamadas vão ficando cada vez mais bravas, mas ele só levanta às 6h30. Já ameacei até jogar água fria", brinca. Para Louzada, a solução ideal seria atrasar o início das aulas matutinas e permitir ao adolescente dormir o suficiente, mas ele reconhece que isso exigiria uma mudança social. Em São Paulo, o Centro Educacional Brandão inicia às 7h50 as aulas de 5a a 8a série. "Adotamos a soneca para as crianças menores e elas passaram a render mais. Imaginamos que o efeito seria o mesmo nos adolescentes", diz a diretora Marta Brandão Zerlotti.Para ajudar os pais, Louzada tem algumas dicas. "Ter horário de ir deitar é bom. Com o adolescente, isso exige negociação", alerta. À noite, deve-se evitar estimulantes: refrigerantes, café, chocolate, exercícios físicos. E convém expor os jovens à luz. "Tirar o black-out ou as cortinas das janelas proporciona um clareamento progressivo do quarto", ensina. E o que mais? "Paciência. É a adolescência, e ela passa", lembra o professor.

Corujas e rouxinóis

Os estudos do relógio biológico levaram à classificação da humanidade em dois tipos, em relação ao sono: os rouxinóis e as corujas. Como passarinho cantador, o tipo rouxinol levanta cedo, mesmo que tenha dormido pouco, e se agita à medida que a luz da manhã se fortalece. É o clássico ser matinal. As corujas, como se sabe, zanzam noite adentro e desabam logo que o dia ameaça raiar. Noturnas, rendem mais no escuro e parecem cultiv Os hormônios atrasam a hora de dormir ar uma certa incompatibilidade com a luz do sol. Essas tendências são genéticas, diz a ciência. O tipo coruja pode, então, ser redimido das acusações de preguiçoso e dorminhoco por parte do tipo rouxinol. Afinal, foi a biologia que quis assim.

(Lélia Chacon)
(Fonte: Crescer)

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